A manifestação dos professores
na Avenida Paulista no dia 26/04 e no dia 03/05, se constituíram em duas
vitórias, sendo uma eufórica e de pouco significado, e a outra trágica, mas com
um significado extremamente valoroso. No dia 26/04, os manifestantes (
basicamente, professores do estado, estudantes secundaristas e estudantes
universitários, estando neste dia em número maior do que nos outros), em
honrosa ousadia, tomaram por completo a Avenida Paulista! Ocuparam as duas
vias, causando quilômetros de congestionamento pela cidade de São Paulo. Em um
depoimento no site da folha, uma cidadã descontente com o ato descreve que
levou “uma hora e 20 minutos apenas para percorrer as 12 quadras que
separam a avenida Brasil da Paulista”. Foi um ato efetivo na medida em
que chamou a atenção e atrapalhou (literalmente, parou as ruas de São Paulo), e
até mesmo subversivo visto que não estava nos planos da cúpula sindical da
Apeoesp, e provavelmente, contrariava os interesses da mesma, se pensarmos no
resultado que o ato causou na manifestação seguinte.
No dia 03/05, foram tomadas
todas as medidas para que a ocupação completa da Paulista não se repetisse.
Quando a primeira via da Paulista foi tomada pelos manifestantes, os líderes da
Apeoesp pediam pelo microfone para que ela fosse desocupada, ao mesmo tempo,
pessoas do sindicato faziam esforço entre os manifestantes para que eles voltassem
para o saguão do MASP (A APEOESP de Assis, nesse momento, declarou não voltar a
levar os estudantes da UNESP de Assis para as próximas manifestações da greve
dos professores, acusando-os de “radicalizar a greve”). Uma vez que os
manifestantes não lhes deram ouvidos e a avenida permaneceu ocupada, formou-se
um cordão de policiais militares impedindo a tomada da outra via.
Durante a Assembleia, a cúpula
da Apeoesp se esforçou ao máximo para amenizar os efeitos do manifesto,
tentando, por exemplo, tirá-lo da Paulista, e falhou miseravelmente diante de
um público que lhes negava todos os apelos. Sem sombra de dúvida, a questão
mais significativa foi a da união da greve dos professores do estado com a dos
professores municipais. Se, tal como disse a Secretaria da Educação, a greve
dos professores foi puxada pela Apeoesp com o objetivo de pressionar o governo
psdebista no Estado de São Paulo e chamar votos para o PT nas eleições de 2014, a partir do momento
em que a greve dos professores do estado se unir com a greve dos professores do
município, a Apeoesp (e o PT) teriam dado um tiro no pé, pois como a prefeitura
de São Paulo é do petista Fernando Haddad, a greve, agora unificada, deixaria
de ter um sentido partidário e passaria a se apresentar como ela realmente tem
sido desde o começo: um manifesto popular de descontentamento para com a
qualidade da educação pública.
Mediante o perigo, a Sra. Bebel,
presidente da APEOESP, prolongou a
Assembleia por 1 hora e meia gritando argumentos contra a união das duas
greves, enquanto o povo respondia eufórico e incessante: “Unifica! Unifica!
Unifica!” Quando finalmente as pautas se abriram para votação, foi decidida a
continuidade da greve, e a cúpula da Apeoesp perdeu em sua proposta de tirar a
greve da Paulista. Quanto a pauta da unificação da greve dos professores do estado e município, num ato de omissão
autoritária, ela se quer foi aberta para
votação!
Quando a manifestação desceu a
Paulista, agora presa a apenas uma via pelo cordão policial que a acompanhava,
o carro de som da Apeoesp paralisou o andamento do manifesto para que ele não
seguisse pela Avenida da Consolação, e entrasse na Bela Cintra. Sabendo o
efeito negativo que causaria no ato, parte considerável dos manifestantes se
negaram a atender ao pedido da Apeoesp, abrindo um novo momento de discurso da
Sra. Bebel contra o povo de sua própria greve. Depois de quase meia hora de
inércia conflituosa entre burocracia sindical e base popular, parte
considerável dos manifestantes contornaram o bloqueio policial e seguiram pela
Avenida da Consolação (momento onde houve pequenos conflitos também com a PM),
mais uma vez, batendo de frente com os interesses da cúpula do sindicato dos
professores. Apesar do ato de soberania popular, daí em diante um clima de
desgaste e desânimo pairou sobre a manifestação, conseguindo até mesmo
desviá-la de seu trajeto oficial quando perto da Praça da República.
Apesar do clima trágico do fim
da passeata política dos professores do estado, ela foi uma vitória de grande
importância. Afirmo isso porque a Assembleia e a manifestação dos professores
do dia 03/05 demonstrou a perda de controle total da base popular pela
burocracia sindical! Base e sindicato, povo e burocracia, se mostraram como
duas partes antagônicas, cada uma com interesses próprios e opostos. Mais do
que isso, foi possível abrir espaço até para a crítica de uma crise da
democracia parlamentar! O sindicato mostrou-se incapaz de defender os
interesses dos trabalhadores, e pior, mostrou-se como um órgão de poder dotado
de interesses próprios e opostos aos dos trabalhadores que deveriam
representar. Por trás dos sindicatos, os partidos que atuavam também se
colocaram na mesma situação. Isso demonstra que o sistema democrático demanda
uma superação do sistema “representativo” para o nível “participativo” de
democracia, e tal sistema político deve ser construído popularmente a partir de
agora. Em outras palavras, está em boa hora para “o povo aprender a andar com
as próprias pernas”.
Além disso, o apoio considerável
dos estudantes secundaristas aos seus professores mostrou-se um fato inédito
nesta greve, evidenciando um boom de
consciência política em resposta a um período de apatia e indiferença da
juventude para com seu “eu” cidadão. Não podemos saber o que acontecerá na
Assembleia do dia 10/05, mas algumas coisas podem ser previstas: o número de
participantes pode diminuir em decorrência do descontentamento dos conflitos da
ultima manifestação e do desgaste da greve, a Apeoesp pode começar a se sentir
interessada pelo fim da greve para que não haja unidade com os professores do
município, a repressão policial pode aumentar. O dia 10/05 será um dia para
pessoas de coragem.
Ainda que a greve acabe sem
nenhuma de suas demandas atendidas, com sorte, ela será lembrada futuramente
como uma divisora de águas. É nesse momento que devemos lembrar que as
conquistas realmente significativas de uma sociedade, dificilmente são
alcançadas imediatamente, e sim, num processo revolucionário permanente, que
deve fluir desde mais aberta manifestação política ao mais singelo agir
cotidiano.
Lucas Alexandre Andreto.