sábado, 2 de agosto de 2014

Sobre a situação dos professores do estado de São Paulo

Já faz pouco mais de um ano que os professores do Estado de São Paulo entraram em greve pela última vez. Na época, as reivindicações do sindicato (APEOESP) eram uma reposição salarial de 36, 74%, cumprimento da lei do piso do magistério ( 33% da jornada de trabalho para formação e preparação de aula), fim dos descontos de falta e licenças médicas para efeito de aposentadoria especial e extensão do regime de trabalho da categoria F para os professores da categoria O (a categoria O são os chamados professores eventuais, que praticamente não gozam de direito trabalhista algum).

                Desde o início, o governo estadual do Sr. Geraldo Alckmin se posicionou de maneira muito clara: a Apeoesp “se pauta por uma agenda político-partidária completamente alheia ao compromisso centrado no aprendizado dos alunos”. Em outras palavras, para o governo do estado de São Paulo, nenhuma das reivindicações eram justas porque o sindicato é dominado pelo partido da oposição (PT), sendo a situação precária e desesperadora do professor e da escola pública apenas fruto da imaginação interesseira de conspiradores políticos oponentes.

                Também este ano, a APEOESP falou em greve. Nesse sentido, entrevistamos a presidente do sindicato, a Sra. Maria Isabel Azevedo Noronha e ela declarou que a greve é necessária, pois o governo estadual mantém os professores numa situação de “desgaste físico mental, intelectual e até adoecimento”. Para a presidente da APEOESP, a carreira de professor tem se tornado pouco atraente por ser um profissional que ganha no máximo R$ 2,500 por uma jornada de 40 horas semanais. Ela destaca que em uma pesquisa feita pelo Data Popular, o professor é a profissão pública pior remunerada entre as 21 profissões que foram abordadas, de forma que o ideal seria um salário de R$ 4,500 por 20 horas semanais.

                Apesar da retórica bonita e realista, a Sra. Maria Isabel encerrou forçadamente a greve dos professores de 2013 quando a vontade dos grevistas apontou para uma unificação com a greve dos professores municipais que acontecia no mesmo momento (cuja crítica, era voltada ao prefeito Fernando Haddad, do mesmo partido de Maria Isabel). Na ocasião, os grevistas se revoltaram contra o sindicato e tentaram agredir os sindicalistas, que por sua vez, chamaram a PM para  acalmar os ânimos da própria categoria (lembrando que o calmante da PM se chama cassetete, bala de borracha e bomba de efeito moral). Neste ano, Maria Isabel declarou que apenas cogitará puxar uma greve da categoria dos professores do estado no segundo semestre.


                Entre a disputa de interesses burocraticamente partidários e individualistas de um governo psdebista e um sindicato (atualmente) petista,  perdem os professores, que continuam em situação lastimável no mesmo passo em que a educação pública fica cada vez mais precária, carente de profissionais (e bons profissionais) e com isso, o cidadão pobre e de classe média, que não tendo condições de pagar uma escola privada (que é em si espoliadora, visto que não é para todos, e visto que trata um direito universal do cidadão como mercadoria), se vê espoliado do direito de uma educação pública de qualidade. O que resta ao trabalhador e seus filhos, no fim das contas, é uma revolta legítima. 

Publicado originalmente em:
http://jornalconfronto.blogspot.com.br/2014/08/sobre-situacao-dos-professores-do.html

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Análise de charges de Claudius Ceccon para a Folha em 1984

Definição de charge
Do Frances charger (exagerar, carregar), vem a palavra Charge. Cujo objetivo é focar em uma realidade, geralmente política, sintetizando o fato com a visão de seu autor. As charges são uma critica humorística de um fato ou acontecimento especifico. São a reprodução gráfica de uma noticia já conhecida do publico, segundo a percepção do desenhista. Carregam sua visão, preconceitos e ideias, e também a linha editorial do veiculo onde estão inseridas.
“Charge é uma representação artística que faz um corte transversal no tempo ao expor elementos que provocaram alguma ruptura na normalidade histórica e, por isso, mereceram alguma espécie de critica ou registro em desenho.” (LIEBEL, Vinicius. 2005)
Partindo do conceito semiótico onde texto é tudo aquilo que possui significação, charge é um texto pictórico que contem signos de conhecimento público, podendo conter também texto verbal, o que revela o caráter interdisciplinar desse gênero artístico, e sua alta complexidade.
“Um texto define-se de duas formas que se complementam: pela organização ou estruturação que dele faz um todo de sentido, e como um objeto da comunicação que se estabelece entre um destinador e um destinatário” (BARROS, 2005)
Todo texto possui uma intencionalidade. Por ser carregada de abstrações, como a escolha do personagem, dos elementos constituintes, e algumas vezes o texto verbal, a charge deve ser interpretada minuciosamente a fim de perceber a intenção do autor para chegar ao sentido do texto.  
A charge tem caráter humorístico, contudo não é um texto ingênuo que apenas diverte, mas sim uma ferramenta importante de informação e conscientização no exercício da cidadania. Pois denuncia e critica aspectos da realidade, podendo ser caracterizada como um discurso ideológico.
Considerando a charge como uma fonte importante de informação, justifica-se sua utilização para análises com fins históricos, pois assim como uma matéria jornalística, coloca uma representação da sociedade vigente.
 Chargista
 Claudius Ceccon
            “O desenho de humor é muito mais livre que uma foto ou um filme. O humor pode usar a linguagem da fantasia, do surrealismo, pode fazer sínteses impossíveis por outros meios, desvelar mecanismos escondidos, abrir as cabeças por meio do riso” (CECCON, Claudius, 2013)
            Claudius Ceccon é um artista interdisciplinar: arquiteto, designer, caricaturista e jornalista. Publicou seus trabalhos nos grandes veículos brasileiros como a Revista Manchete, pelos jornais A Noite, Diário Carioca, Correio da Manhã, O Globo, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Sua carreira jornalística teve início ao trabalhar como auxiliar de paginador da revista O Cruzeiro em 1952. Começou a fazer suas caricaturas políticas em 1954, para o Jornal do Brasil. Trabalhou na Revista Pif-paf e na Senhor, onde conheceu os futuros parceiros que em 1969 fundariam o jornal  O pasquim, o qual colaborou até sua extinção em 1982, desafiando a censura e ditadura militar.
            Considerando seu exílio político em Genebra em 1971, não é difícil estabelecer uma idéia da posição política do cartunista de humor, Claudius Ceccon a respeito do período ditatorial no Brasil. Lá conheceu Paulo Freire e a preocupação que o acompanha até hoje e influenciou todo seu trabalho nasceu: a democratização da informação.  Fundou com Paulo Freire o Instituto de Ação Participativa (Idac), no qual realizou um importante projeto de alfabetização de adultos em países africanos de língua portuguesa.
            Em seu retorno ao Brasil em 1978, aplicou os métodos educativos utilizados pelo Idac em comunidades carentes de São Paulo em parceria com o arcebispo Dom Evaristo Arns. Após se desligar do instituto, passou a integrar a diretoria do Centro de criação de imagem popular (Cecip), onde até hoje desenvolve atividades pedagógicas em vídeos na cidade de Nova Iguaçu. Publicou diversos livros decorrentes desse trabalho educacional, e até hoje faz suas contribuições jornalísticas como por exemplo para a revista Caros Amigos.

 Análise de Charges

Charge Publicada Na Folha do dia 30/09/84:

O personagem representado na charge é o ex-governador e na época deputado federal Paulo Maluf, caracterizado pelo estilo do óculos fundo de garrafa, por seu peso, sua boca grande e o proeminente nariz. Maluf foi candidato à presidência via eleições indiretas pelo colégio eleitoral, e era contra a emenda institucional Dante de Oliveira que visava as eleições presidenciais de forma direta.
Na charge o personagem realiza um exame oftalmológico, com as inscrições que formam a palavra democracia, contudo ele não as identifica e as troca por letras que formam a palavra ditadura.
O Chargista que é pro-democracia assim como o veículo no dado momento ironizam  a imagem de Maluf, quanto suas características físicas e seus valores políticos. Maluf que apresenta problemas de visão, devido ao uso do óculos corretivo de grau elevado, é caracterizado com um problema de visão também ideológico. O personagem está reclinado e com olhos apertados, como se fizesse força para enxergar. Porém se nega a ver a nova realidade que se apresenta diante de seus olhos, e deturpa a palavra não só em seu sentido verbal, mas também simbólico conforme sua perspectiva.


Charge Publicada Na Folha do dia 16/09/84:


A charge apresenta os personagens de Maluf e Tancredo, batendo à porta do colégio eleitoral. Tancredo com flores nas mãos e Maluf munido com armas. Ambos eram candidatos às eleições indiretas para presidência e apresentavam uma relação de oposição politico-ideológica.
“O crescimento da candidatura, junto às faixas mais amplas da opinião pública, deveu-se mais à polarização e aos efeitos do contraste com Maluf do que propriamente às qualidades de Tancredo. Estuário natural da longa resistência à ditadura, o candidato da oposição beneficiou-se da natureza plebiscitária da competição. Não era preciso desejar a vitória de Tancredo para torcer por ela, bastava desejar a derrota de seu adversário “(Soares, 1993).

Tancredo possuía um discurso moderado, e mais à esquerda no cenário da época. Já Maluf, candidato pelo PDS possuía apoio dos militares. É lembrado "como político conciliador e hábil articulador político" por Roldão Arruda, jornalista do Estado de São Paulo.
As flores que Tancredo empunha e sua expressão calma, simbolizam e caracterizam seu discurso pacifico diante das divergências politicas do contexto. Já Maluf é endemonizado pelo chargista, através de sua expressão vil com a sobrancelha arcada e o porte de um armamento. Tancredo vem a frente, pois propunha a mudança apoiado pela opinião publica. Enquanto Maluf vem armado pois deseja impor que não haja mudança.

Charge Publicada Na Folha em 09/84:


A Charge representa Maluf tentando tirar coelhos de uma cartola furada. Com expressão de perplexidade e desconcerto, se dá conta que os coelhos fugiram.
“Maluf provocava quase apoplexia na esquerda, em boa parte do centro e até em alguns membros do PDS, que o viam como uma ameaça à democracia emergente. O ex-governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães, por exemplo, declarou em agosto de 1984 que Maluf era o homem mais odiado do Brasil e que não podia andar um quarteirão sem arriscar sua vida” (SKIDMORE, 1988)

A mensagem da charge é clara quanto a visão do veículo, do chargista e da opinião publica diante do desenrolar da votação indireta à presidência. O chargista apresenta o personagem como um mágico que tenta usar subterfúgios para lidar com a situação. Contudo “os coelhos fugiram da cartola”, assim como a situação que saiu do controle das mãos do então candidato, que estava com sua imagem manchada. 

Marina Chiapetta e Gabriela Prado

A pulsão sexual e a obsessão em Lolita – Vladimir Nabokov (1955)


Lolita é um romance do escritor russo Vladimir Nabokov publicado em 1955, considerado como uma das mais célebres, sórdidas e polêmicas obras do século XX. O tema tratado na obra é a pedofilia e amor obsessivo. Já o assunto é a relação doentia de um homem de 35 anos com sua enteada, de 12. A mensagem passada através do livro confirma a teoria freudiana de que as pulsões sexuais, muitas vezes, ultrapassam o controle da própria racionalidade. Humbert Humbert é narrador protagonista  do romance, este desenvolve um conflito psicológico, tentando diminuir sua culpa por sua contravenção moral. Contudo, também, enfrenta um conflito legal, pois a pedofilia é uma relação ilícita e por isso, tenta se esquivar da polícia e de qualquer suspeita.
“Lolita, luz de minha vida, fogo de meu lombo. Meu pecado, minha alma. Lolita: a ponta da língua fazendo uma viagem de três passos pelo céu da boca, a fim de bater de leve, no terceiro, de encontro aos dentes. LO. LI. TA.” (Nabokov, 1955, p.7)
O escritor e professor de literatura francesa, Humbert, 35 anos, aluga um quarto na casa de uma viúva com uma filha adolescente, na pequena cidade de Ramsdale, Nova Inglaterra, em plena 1947. Ele se apaixona perdidamente pela garota, Dolores Haze, 12 anos, e por isso, casa-se com sua mãe, Charlotte Haze, para se manter próximo. A jovem gosta de ser alvo dessa paixão usando o professor para realizar seus caprichos. Devido ao mau relacionamento com a mãe, é enviada para um acampamento de férias. Após descobrir as confissões de Humbert Humbert em seu diário, Charlotte morre atropelada e a partir de então, Humbert busca Lolita e foge para uma viagem sem conta-la do ocorrido. Constrói uma nova vida a apresentando como filha, mas na privacidade, a usa como amante.
Uma possível interpretação para esta história, que se mantém polêmica até hoje, é a perversão clínica, pelas chamadas nymphets (meninas de nove a quatorze anos), do amargurado Humbert. Em algumas analises, Lolita é considerada culpada por provocar o desejo doentio do professor e isso pode ser fruto da eficaz tentativa de racionalização deste para transferir a culpa. Tal racionalização é apresentada em diferentes pontos da obra, começando pelo trauma vivido com a jovem Annabel. Humbert atribui uma das possíveis causas para seu problema por uma frustração na infância de um amor intenso que viveu aos treze anos com uma menina da mesma idade, que tragicamente morreu, marcando-o com o desejo reprimido por um corpo infantil. Esta lembrança sempre o torturou e veio a eclodir ao ver Dolores no jardim da casa pela primeira vez.
Uma possível analogia à ser feita é que o autor favorito de Humbert, Edgard Allan Poe, que já era maduro quando se casou com uma menina de quatorze. Ao cunhar o termo “nymphets”, pretende fazer a distinção entre estas e as “crianças normais”, assim, tenta tirar esse peso de sua consciência ao dizer que respeita as crianças comuns que ainda são puras e vulneráveis.
“Ora me sentia envergonhado e assustado, ora inquietamente otimista.” (Nabokov, 1955, p.18) Por vezes Humbert convencia-se que apenas sonhar e desejar as nymphets não era uma doença, mas sim transitar das ideias para o ato, o que seria uma depravação. Pelo receio de ser preso e condenado, Humbert renuncia à seus desejos durante anos de sua vida apenas tendo relações sexuais com mulheres adultas, mas que ainda assim mantivessem traços infantis.
Lolita é uma garota perversamente ingênua. Mantém uma relação conflituosa e de disputas com a mãe, tem uma curiosidade sexual aguçada, característica de uma púbere, e se vê envolvida pela ilusão de glamour de ter seus caprichos realizados e também satisfazer seus sonhos de consumo.
A relação conflituosa entre Lolita e sua mãe é bem clara. Segundo Humbert, Charlotte é a “mãe detestada” (Nabokov, 1955, p. 51), pois implica com Lolita a todo momento e ambas tentam fazer da vida uma da outra um caos. Charlotte, após casar-se com Humbert, planeja se livrar da filha, a mandando para um colégio interno.  Já Lolita, por ver o intenso amor de sua mãe por Humbert, o seduz como forma de rivalidade e competição pela atenção deste. Usa-o como forma de disputa, e não como objeto de desejo, tendo em vista apenas vencer a rival e não mantê-lo como parceiro. Isto fica claro após a morte da mãe, quando Lolita perde o interesse de conquistá-lo.
            Lolita possui curiosidades sexuais típicas da puberdade e também uma sensualidade natural ao tentar seduzir um homem com sua jovialidade tentadora. A garota insinua que sua primeira experiência sexual ocorreu durante o acampamento de férias com outro adolescente, assim, revela sua curiosidade pelo sexo oposto, mas que, diferente de Humbert, não é excludente à uma faixa etária.
            A personagem se vê envolta a uma atmosfera de glamour hollywoodiana com a disputa amorosa e a paixão impossível, e também por ter seus caprichos consumistas satisfeitos pelo alvo de sua manipulação. Após a morte de Charlotte, Lolita se encontra presa e suas atitudes oscilam entre passividade que, em alguns momentos, alcança a apatia e também a rebeldia com acusações abertas e agressões, revelando as consequências de ser alvo de uma possessividade sufocante. Consegue fugir e se manter anônima pelos próximos quatro anos, quando envia-lhe uma carta pedindo ajuda financeira.
            Muitos absolvem a culpa de Humbert pelo seu amor incondicional por Lolita, o que fica claro ao vê-la mulher, aos 18 anos, e mesmo sendo considerado um pedófilo, mantém a paixão descartando a importância da idade. “Não podia matá-la, claro, como alguns pensaram. Eu a amava, os senhores compreendem. Era amor à primeira vista, à última vista e a todas as outras vistas, sempre.” (Nabokov, 1955, p.301)


            A história é narrada por seu protagonista, Humbert, que apresenta ao longo do livro suas confissões e seus conflitos internos em relação à essa polêmica moral. Em alguns momentos da reflexão, ele se condena mas, ao mesmo tempo, tenta amenizar e se enganar diante de suas racionalizações para justificar seu desejo. Humbert vê sua racionalidade vencida por suas pulsões sexuais. Lolita é uma menina curiosa e que não pode ser vista como completamente ingênua, ela possui malícia e sabe como despertar a paixão nele. Contudo, não é a culpada pela perversão de Humbert, este que já possuía características de um pedófilo antes de conhecê-la.
 Tays Perez e Marina Chiapetta

Os anônimos que dão voz aos muros


Quem foram os autores? Quando pintaram? Porque escreveram isso? Qual a reação do pedestre? Essa mensagem é de domínio público, é divulgada por outros meios? Qual a reação de quem detém a propriedade do muro? "Pichação é crime", expressa a embalagem de tinta em spray.



Sua intenção imediata é o apelo a mudança: aos olhos para que se libertem e lutem por algo, talvez uma paixão fugaz. Barba cerrada, cabelo liso, camiseta e calça jeans, longe de corresponder ao estereótipo de um pichador, Felipe Brait com moldes assinala seus contornos na parede escura. "Você já abraçou alguém hoje?", pergunta. Joseane responde sentada no ônibus 177X-10 em sua volta para casa, "Eu não abracei ninguém. A frase é bonita".


Seria ingênuo acreditar, que em uma cidade em constante mudança, o objetivo dessa intervenção seja apenas cosmético. O artista, que para seu interlocutor é anônimo, trabalha, talvez sem mesmo saber, com uma das dimensões mais densas da cidade: O muro.


Ele que é a linha levantada na cidade, que separa os espaços sociais para isolar os indivíduos. Possibilitando a privacidade, mas também o aprisionamento. Por vezes atravessado por portas de comunicação, outras como símbolo eficaz da interdição absoluta. É capaz de ser mural, de ser canal e comunicador ao mesmo tempo, ecoando mensagens no imaginário de quem passa a sua frente. Mensagens de anuncio ou de denuncia, duas faces da mesma moeda, duas táticas de uma só estratégia: A invocação à outra realidade.


"No meu bairro, a pichação é bem comum, mas é um pouco diferente. A ultima foi no muro do colégio Leivas Macalão, homenagearam um menino que foi assassinado ali na frente após uma briga de gangue", contou Joseane. A pichação diz: "O sofrimento também é uma escola, glória ao pai. Indião sempre na memória". Essa homenagem, esse manifesto silencioso, é encarregado de gritar a realidade no ouvido dos que por ali passarem, para que não esqueçam que ali cresce o embrião do conflito de território físico e as discrepâncias sociais.


Independente da divergência de técnicas ou narrativas, os interesses confluem para a difusão de uma mensagem, explicita ou não. " As intervenções são fundamentais ao partir no caminho de legitimação do convívio social , pois ativam uma amplificação do olhar público sobre a cidade. Quebram a rotina", argumenta Felipe.


"Sua liberdade vale seu salário?","Permita-se", "Você praça, eu acho graça. Você prédio, eu acho tédio", "Mais amor por favor". Esses dizeres já são conhecidos de um bom observador da cidade São Paulo, e carregam mensagens que se propõem a romper com o jogo urbano para que questionamentos aflorem.

Adélia Pinheiro, professora aposentada, 66, decidiu deixar um recado em seu muro após ter sua residência assaltada duas vezes. Com letras firmes feitas com carvão no muro branco a clara mensagem : "Caríssimo ladrão, nesta casa não há mais nada para roubar. Já o fizeram com muita eficiência". A indignação de Adélia releva sua denúncia à violência presente em seu bairro Jardim Peri.

Seja através de Felipes ou Adélias, a cidade vai se comunicar, pois vive e tem algo a lhe dizer. Eles são apenas os porta-vozes anônimos em meio a ordem e a desordem.

RAP e a construção da identidade

1.    Introdução

Nessa pesquisa buscamos verificar a relação do RAP na construção da identidade. Identificar qual a relação desse gênero com o movimento que ele representa em nossa sociedade.
            Determinadas sonoridades e letras nos permitem vivenciar uma serie de experiências sensíveis que envolvem o cenário musical e as trajetórias construídas nos tecidos urbanos.
            Demonstrar como o RAP é usado para expressar uma resistência à realidade vivida e compartilhada pelos seguidores do movimento, uma maneira de não ceder aos problemas gerados pelas diferenças sociais na nossa sociedade.
           Identificar o sujeito inserido na cena musical, e o rap sendo uma forma de mensagem que atravessa as barreiras sociais e acaba se tornando uma voz da comunidade.
A construção de identidade no RAP é uma forma de resistência?

  
2.    Contexto Histórico

O RAP palavra formada pelas iniciais da expressão ritmo e poesia (rhythm and poetry) é a linguagem musical do movimento Hip Hop, um estilo juvenil que agrega outras linguagens artísticas como as artes plásticas, o grafite a dança, o break e a discotecagem.
 Esse gênero musical é fruto de um processo intenso de articulação e reelaboração de influências das mais diversas, desde o imaginário oriundo das culturas africanas que sofreram influências durante séculos com os traços musicais e culturais americanos e europeus, até suas primeiras manifestações no Brasil, se adaptando a realidade das comunidades.
            Oriundo dos Estados Unidos e do Hip Hop, o RAP surgiu no Brasil no final da década de 90 quando tornou-se um gênero musical com certa autonomia. O maior expoente desse gênero é o Racionais MC's que inovaram trazendo uma música de movimento de protesto e combate social.
            O ideal do RAP politizado foi apresentado no dia 25 de janeiro 1988 num show realizado no Parque do Ibirapuera pelos Racionais MC's. Com o surgimento na periferia da cidade de São Paulo (Região do Capão Redondo) esse movimento foi se ampliando com festas de ruas e diversos eventos artísticos. Nessas festas reuniam-se grupos de RAP locais e convidados com o objetivo de se apropriar das ruas com atividades voltadas para a cultura, o lazer e as ações antiviolência.


 3.    Desenvolvimento
3.1.  Sujeito Social
            DAYRELL através de CHARLOT define sujeito social caracterizando-o como parte de um grupo social, mas também diferente de todos como um ser singular. O ser humano não é um dado, mas uma construção. Constitui-se na relação com o outro no meio social a que se insere, com os recursos que dispõem. O ser humano quando nasce herda uma construção de mundo de seus ancestrais, que interfere na produção de cada um deles como sujeito social, independentemente da ação de cada um.
"O sujeito é um ser humano aberto a um mundo que possui uma historicidade; é portador de desejos, e é movido por eles, além de estar em relação com outros seres humanos, eles também sujeitos. Ao mesmo tempo o sujeito é um ser social com determinada origem familiar, que ocupa um determinado lugar social e se encontra inserido em relações sociais. Finalmente, o sujeito é um ser singular, que tem uma história, que interpreta o mundo e dá-lhe sentido, assim como dá sentido à posição que ocupa nele, às suas relações com os outros, à sua própria história e a à sua singularidade. O sujeito é ativo age no e sobre o mundo, e nessa ação se produz e, ao mesmo tempo, é produzido no conjunto das relações sociais na qual se insere" (DAYRELL, Juarez apud CHARLOT 2000, p. 33 e 51).

            O morador da periferia vivencia as mínimas transformações sociais e faz disso seu estilo de vida e realidade, o RAP pode proporcionar a esse sujeito uma maneira de semear seu discurso de resistência, e assim dar voz a sua comunidade. Os rappers estão inseridos em um mesmo contexto social, porem cada um, sendo um sujeito singular, passa sua própria mensagem de consciência social.
            O sujeito homem acaba se tornando um exemplo e uma referência para as pessoas que o cercam, modificando o comportamento coletivo de onde ele está inserido.
3.2.        RAP uma mensagem social
Esse movimento caracteriza-se pela exclusão social do negro e pela ideologia inspirada na autovalorização de suas origens africanas, negando a violência e a marginalidade.  O RAP demonstra o quanto é conflitante para um jovem de periferia abraçar o discurso consciente vivendo situações concretas de extrema violência e desespero existencial.
“Podemos entender o estilo como uma manifestação simbólica das culturas juvenis, que expressam um conjunto mais ou menos coerente de elementos materiais e imateriais que os jovens consideram representativos da sua identidade individual e coletiva.” (FEIXA, 1998).
Os rappers traduzem em suas músicas suas vivências do cotidiano da comunidade com visões de observadores e participantes, tornando-se cronistas e críticos da modernidade. Mais do que apenas narrar também envolvem os jovens em sua mensagem, que transmite força e resistência à realidade da violência, do tráfico e das drogas. O RAP torna-se um movimento de luta que integra os jovens e dá voz a essa outra perspectiva da comunidade. Segundo dicionário da Língua Portuguesa, a definição de resistir é:
“Opor força a força, defender-se: resistir aos ataques do inimigo. Conservar-se firme, não sucumbir, não ceder: resistir à fadiga, à tentação.” (BUENO, Silveira, 1995).

Essa definição traduz a luta do RAP como movimento social que visa incluir os jovens a uma nova realidade onde existe uma perspectiva além da marginalidade.
“Moleque novo que não passa dos 12/ Já viu, viveu mais que muito homem de hoje/ Vira a esquina e para em frente a uma vitrine/ Se vê, se imagina na vida do crime./ Dizem que quem quer segue o caminho certo/Ele se espelha em quem tá mais perto.” (RACIONAIS MC’s, O mágico de OZ)¹.
 O RAP traz para perto dos jovens um exemplo positivo a ser seguido que se opõem ao mais acessível como as drogas (O consumo aumenta a cada hora./Pra aquecer ou pra esquecer/ Viciar, deve ser pra se adormecere o crime (Matando os outros, em troca de dinheiro e fama/ Grana suja, como vem, vai, não me engana.)¹. Outras pessoas que também estão resistindo a essa realidade e não são submissos a ela. Ele proporciona ao jovem uma maneira de expressão escrevendo suas letras e se manifestando quanto aos seus anseios como sujeito social.
Essa cena musical, além de ser um espaço de aprendizagem de relações apresenta–se também como um dos únicos momentos onde podem vivenciar um processo de criação coletiva. Ser capaz de produzir uma obra própria interfere diretamente na autoestima de cada um. Cantar e escrever torna–se uma forma de descargo emocional.
“Não entendo meu país o povo é muito acomodado, país do faz de conta quer viver? fica calado/ Quem não vive pra servir, aqui não serve pra viver, mas pra mim perder a vida é bem pior do que morrer./ Vamos acordar pra vida, o que é isso companheiro?, morrer de pé ou vai passar a sua vida de joelhos?”( LIBERDADE E REVOLUÇÂO, Minha luta).
            As músicas de RAP em geral, assim como a citada, criticam duramente as mazelas dos políticos, os atos arbitrários da policia e a futilidade de certos seguimentos sociais dominantes. Mano Brown, vocalista do RACIONAIS MC’s, se identifica não como artista, pois segundo ele artista faz arte e ele faz arma, se identifica sim como terrorista. Um terrorista que faz críticas contundentes as classes dominantes e uma exaltação do orgulho racial.
Os rappers estão preocupados em passar essa mensagem social para conscientizar a sociedade e por isso “rasgam o verbo”. Além de pretender transformar essa realidade em uma sociedade mais justa e democrática, representados numa cena musical que caracteriza uma manifestação cultural.
             3.3. Cena Musical
            A cena musical possibilita a articulação de experiências globais e locais por meio de circuitos culturais, ocupações sensíveis dos espaços urbanos e projeção de territórios sonoros. Segundo Will Straw, cena musical é "um espaço cultural em que várias práticas musicais coexistem interagindo entre si com uma variedade de processos de diferenciação." (1997, p.494).
            Essa cena musical dentro de diferentes ambientes pode trazer outras formas de expressão cultural no RAP, por exemplo, o break, o grafite, artes plásticas fazem parte desse ambiente reforçando ainda mais a cultura polinizadora que a comunidade oferece.
            São Paulo é a cidade que o RAP se fortalece e tem maior visibilidade, se instalando na periferia da cidade onde a desigualdade é mais nítida. Um dos exemplos práticos é a Virada Cultural que apresenta diversas programações específicas para o público alvo. Artistas dessa cena musical como Criolo, Racionais MC', Thayde, Rappin Hood, Emicida, Kamau, Sandrão RZO, entre outros já reconhecidos, participam do projeto. Caracterizando a importância do Rap como grande influência cultural.
"Dentro de uma cena musical, o mesmo senso de propósito é articulado em meio às formas de comunicação através das quais a construção de alianças musicais e o desenho das fronteiras musicais tomam forma. O modo como as práticas musicais dentro de uma cena se vinculam aos processos históricos de mudança ocorre dentro de uma cultura musical ampla que também é uma base significante do modo como essas formas são posicionadas dentro da cena em nível local. ( STRAW,1991, p. 494)"
           
Os ouvintes se identificam com o discurso proposto pelos rappers, sendo que uma densa parte da sociedade passa pelas mesmas dificuldades, e pelas mesmas angústias. Então essa cultura musical acaba se tornando abrangente e inovadora. A noção de cena musical aponta para um processo de identificação.
 3.4 Identidades
“O conceito de identidade, (...) de modo geral (...), se relaciona ao conjunto de compreensões que as pessoas mantêm sobre quem elas são e sobre o que é significativo para elas (...).” (GIDDENS, 2005, p. 43).
A definição do conceito de identidade é complexa, devendo ser dividida em diversos níveis para uma melhor compreensão. Para Frith, “a música parece ser a chave para a identidade, porque ela oferece tão intensamente um senso de você mesmo e dos outros, de sua subjetividade e coletividade” (FRITH, 1996, p.110), como por exemplo, nas identidades inseridas no contexto do RAP:
- Identidade Cultural, é construída a partir de fatores que se agregam ao longo do tempo como algo que vai além de descendências e que se mistura aos costumes locais, aos padrões de comportamento, a época e suas interpretações. A música é uma forma de nos posicionarmos, nos identificarmos dentro de uma comunidade, dentro da cultura que compartilhamos.  O RAP possui uma cultura própria, a cultura do negro, do excluído, da luta, da resistência e do pobre.
“A identidade tornou-se uma celebração móvel: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam.” (HALL, 2001, p.13).
            A experiência de identidade é algo único que engloba memorias, lembranças e vivencias individuais que estão relacionadas a mudanças e transformações que envolvem partilhas com os outros. Identidades culturais são possibilidades de inserção de diferentes experiências em uma cultura coletiva.
(...) é provável que os membros de uma mesma sociedade compartilhem as mesmas maneiras de estar no mundo (gestualidades, maneiras de dizer, maneiras de fazer etc.), adquiridas quando de sua socialização primeira, maneiras de estar no mundo que contribuem a defini-los e que memorizam sem ter consciência, o que é o princípio mesmo de sua eficácia. Desse ponto de vista, seria preciso atribuir nuances as concepções situacionais de identidade sem, no entanto, rejeitá-las, afirmando que pode existir um núcleo memorial, um fundo ou um substrato cultural, ou ainda o que Ernest Gellner chama de “capital cognitivo fixo”, compartilhado por uma maioria dos membros de um grupo e que confere a este uma identidade dotada de certa essência (CANDAU, 2012, p. 26).


            A cultura agrega novas tendências com o passar dos anos, contudo “o núcleo memorial” já é assimilado pela cultura compartilhada. No caso do RAP a memória Afro e dos anos de exclusão, realidade que é herdada através das gerações.                     

            - Identidade Geográfica, é formada a partir do espaço e das relações nele existentes e que o caracterizam. No espaço onde se encontram as relações do RAP existe um clima de violência, a presença do tráfico de drogas, as histórias trágicas e também confere o estigma de ser favelado a seus moradores. Todo esse contexto interfere na construção de identidade da comunidade, visto que é necessário lidar com esse cotidiano.
            Segundo Giddens (2002), lugar é um espaço particular, familiar, responsável pela construção de nossas referências no mundo, daí a importância do tecido urbano na formação dos gêneros musicais. Os participantes de uma cena musical como o RAP partilham formas de ocupação dos espaços culturais.
Para Dewey (2010), identificação é caracterizada por uma interação continua dos seres vivos com o meio ambiente. Os participantes de uma cena musical materializam circuitos culturais através não só da circulação de práticas musicais como dos próprios sujeitos que consomem músicas nesses territórios. Fazendo assim da favela o território sonoro do RAP.
            - Identidade Social, é formada a partir de grupos de convívio, através de interesses comuns ou amizades. Por meio da música formam-se relações sociais entre pessoas de mesmo gosto, ambiente e pensamentos. O ser humano se constrói na relação com o outro e essa partilha de vivências influência no que o sujeito social se torna, adquirindo características semelhantes nesse convívio.
            “(...) As identidades sociais marcam as formas pelas quais os indivíduos são ‘o mesmo’ que os outros (...)” (Giddens, 2005).  O RAP fornece a esses indivíduos a oportunidade de união, formando uma consciência representada por expressões culturais, tornando-se algo que fortalece as relações do movimento. “Pela raiz me fortaleço, me alimento/agradeço e represento a resistência/coerência, competência/sem deixar de ouvir a voz da experiência.” (KAMAU, Resistência).

4. Conclusão     

           A música de uma forma geral implica em valores e codificações, que impulsionam seu sentido, apresentando uma linguagem, valores e identidades próprias.
          O mundo da cultura se apresenta mais democrático, possibilitando espaços, tempos e experiências que permitam que esses jovens se construam como sujeitos.
          O RAP representa uma ampla manifestação cultural nas periferias dos grandes centros urbanos, expressando e criticando as mazelas sofridas por essa parcela, em uma grande metrópole que é São Paulo.
         Os representantes do RAP se identificam formando uma luta de resistência contra uma realidade desigual. Eles sentem um elemento de coerência entre si, pela cultura que herdam, pelo espaço geográfico que habitam e pela mesma mensagem que querem transmitir.
            Podemos concluir através da análise que o RAP constitui um movimento social de identidade, valores e de transformação social, criando na comunidade ambientes reais de fuga da marginalidade, onde o indivíduo pode se realizar como um sujeito social ativo. A identificação do indivíduo permite o fortalecimento da autonomia dos próprios ideais de um movimento que está em ascensão na sociedade atual.
            O objetivo é através do RAP transformar essa realidade em uma sociedade mais justa e mais democrática.
           


 5. Bibliografia

Artigos
DAYERELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Minas Gerais, nº24, abril/2003
CONTIER, Arnaldo. O rap brasileiro e os Racionais MC's. São Paulo, ano 1, maio/2005
JANOTTI JR, Jeder. ”Partilhas do Comum”: cenas musicais e identidades culturais. Fortaleza, setembro/2012
POLLACK, Michael. Memória e identidade social. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.
MOURA, Auro. MÚSICA E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE. Paraná, 2012.
Livros
DAYERELL, Juarez. A música entra em cena. Edição 1, Minas Gerais: Editora UFMG, 2005.
Músicas
PEREIRA, Pedro. Mágico de OZ. In Mano Brown. Racionais ao vivo. São Paulo: Cosa Nostra/Zâmbia, 2001, CD 6, faixa 06.
PEREIRA, Edílson. Minha Luta. In Liberdade E Revolução. Resistindo a opressão, estado e religião. São Paulo: CD 1, faixa 03.
VINICIUS, Marcos. Resistência. In Kamau. Sinopse. São Paulo: 2005, CD 1, Faixa 05.


 Marina Chiapetta e Gabriela Prado

Enquanto isso, no lustre do castelo..



Era uma tarde de quarta-feira, março de 2013. Mas em minha mente estava no inicio do século XX, adentrando a Vila Penteado. O fascínio me foi instantâneo, adornos que encheram meus olhos. Pé direito alto, ar que me enchia os pulmões.Tudo tão decorado em mínimos detalhes, um verdadeiro palácio digno de realeza. As mulheres se movimentavam como ninfas, a personificação da graça, leves e delicadas. Mas mesmo sem elas, a decoração já dançava e preenchia o ambiente.O chão decorado por pequenas pastilhas coloridas formando desenhos e as iniciais da família, não deixavam duvida da imponência e elegância dos Almeida Prado.



Tantas curvas, arcos e espelhos a observar que mais nada ocupava minha mente. Só o lustre poderia me prender a atenção por horas. Metal dourado, em forma de curvas e folhas. Vidro trabalhado, parecia que de lá sairiam fadas dispostas a participar da festa.


Lindas moças de porcelana farfalhavam pelo salão. Quando a mais bela ninfa surgiu ao topo da escada furtando a atenção, brilhava como ouro, era a anfitriã. Enquanto descia as escadas, seu vestido de renda se esparramava pelos degraus como um riacho. Percebi que vinha em minha direção.Ouvi gritos. "Marina já terminamos a visita". Ao acordar do transe era dia novamente. As moças já tinham ido para casa e a luz do sol entrava pelos vidros. Fui a varanda e ao sorver o perfume das flores suspirei. "Ah, que bela época".