sábado, 2 de agosto de 2014

Sobre a situação dos professores do estado de São Paulo

Já faz pouco mais de um ano que os professores do Estado de São Paulo entraram em greve pela última vez. Na época, as reivindicações do sindicato (APEOESP) eram uma reposição salarial de 36, 74%, cumprimento da lei do piso do magistério ( 33% da jornada de trabalho para formação e preparação de aula), fim dos descontos de falta e licenças médicas para efeito de aposentadoria especial e extensão do regime de trabalho da categoria F para os professores da categoria O (a categoria O são os chamados professores eventuais, que praticamente não gozam de direito trabalhista algum).

                Desde o início, o governo estadual do Sr. Geraldo Alckmin se posicionou de maneira muito clara: a Apeoesp “se pauta por uma agenda político-partidária completamente alheia ao compromisso centrado no aprendizado dos alunos”. Em outras palavras, para o governo do estado de São Paulo, nenhuma das reivindicações eram justas porque o sindicato é dominado pelo partido da oposição (PT), sendo a situação precária e desesperadora do professor e da escola pública apenas fruto da imaginação interesseira de conspiradores políticos oponentes.

                Também este ano, a APEOESP falou em greve. Nesse sentido, entrevistamos a presidente do sindicato, a Sra. Maria Isabel Azevedo Noronha e ela declarou que a greve é necessária, pois o governo estadual mantém os professores numa situação de “desgaste físico mental, intelectual e até adoecimento”. Para a presidente da APEOESP, a carreira de professor tem se tornado pouco atraente por ser um profissional que ganha no máximo R$ 2,500 por uma jornada de 40 horas semanais. Ela destaca que em uma pesquisa feita pelo Data Popular, o professor é a profissão pública pior remunerada entre as 21 profissões que foram abordadas, de forma que o ideal seria um salário de R$ 4,500 por 20 horas semanais.

                Apesar da retórica bonita e realista, a Sra. Maria Isabel encerrou forçadamente a greve dos professores de 2013 quando a vontade dos grevistas apontou para uma unificação com a greve dos professores municipais que acontecia no mesmo momento (cuja crítica, era voltada ao prefeito Fernando Haddad, do mesmo partido de Maria Isabel). Na ocasião, os grevistas se revoltaram contra o sindicato e tentaram agredir os sindicalistas, que por sua vez, chamaram a PM para  acalmar os ânimos da própria categoria (lembrando que o calmante da PM se chama cassetete, bala de borracha e bomba de efeito moral). Neste ano, Maria Isabel declarou que apenas cogitará puxar uma greve da categoria dos professores do estado no segundo semestre.


                Entre a disputa de interesses burocraticamente partidários e individualistas de um governo psdebista e um sindicato (atualmente) petista,  perdem os professores, que continuam em situação lastimável no mesmo passo em que a educação pública fica cada vez mais precária, carente de profissionais (e bons profissionais) e com isso, o cidadão pobre e de classe média, que não tendo condições de pagar uma escola privada (que é em si espoliadora, visto que não é para todos, e visto que trata um direito universal do cidadão como mercadoria), se vê espoliado do direito de uma educação pública de qualidade. O que resta ao trabalhador e seus filhos, no fim das contas, é uma revolta legítima. 

Publicado originalmente em:
http://jornalconfronto.blogspot.com.br/2014/08/sobre-situacao-dos-professores-do.html