quinta-feira, 6 de junho de 2013
As Pin-Ups suburbanas de Alex Vallauri
A exposição de Alex Vallauri realizada no primeiro semestre de 2013 no MAM, fez uma retrospectiva de sua obra. Este que foi um dos primeiros artistas do país a trabalhar com a arte de rua, e mesmo tendo sua obra reconhecida e exposta em galerias, ressaltou a importância do grafite como arte marginal, arte que surge de surpresa no espaço urbano modificando-o. O grafite na rua, traz reflexões em lugares onde elas não estariam presentes, o que quebra a linearidade do processo de reflexão através da arte.
A estética na obra de Vallauri utiliza signos que todos podem entender, pois são parte do repertório cultural popular. Através de seus estênceis faz suas poesias visuais, produzindo registros gráficos de alto contraste e cores intensas. Possui referências a pop arte pela reprodutibilidade, referência a cultura massificada dos anos 50, e sua sutil critica de maneira divertida aos sonhos de consumo da classe média.
Utiliza silhueta de leitura rápida, de associação a ícones, porém quebra suas regras, constrói novas intenções e propõe reflexões se valendo da estética. Como por exemplo em sua obra "Mulher pantereta com telefone", onde existe a referência clara às pin-ups , clichê dos anos 50, porém recontextualizas. A pin-up de Vallauri é uma mulher suburbana, latina de sensualidade estereotipada, que exagera do apelo erótico da estampa de onça, apesar de ter suas curvas já bem destacadas. Essa pin-up não traz os valores impostos pelo gosto e estética burguesa, ela os nega.
A figura da mulher é muito explorada em sua obra, Vallauri também utiliza repetidamente a figura do frango-assado que pode ser associada a ideia de "farofeira" da mulher suburbana, como ele cita em entrevista ao programa Radar em 1984: "corpulenta mulher suburbana que mora no Glicério e está com os amiguinhos querendo fazer um pic-nic e faz um frango assado".
A instalação "A Festa da Rainha do Frango Assado" exposta por Vallauri na bienal de 1985, foi parcialmente remontada nessa retrospectiva no mam. Essa fase de sua obra reproduz objetos vulgares, ditos como de mau gosto. Faz sua própria festa de grafite cafona, ironizando ícones da sociedade de consumo que se destinam a massa. Ao trazer um vaso sanitário, assim como outras peças presentes no nosso dia-a-dia, podemos fazer uma associação à obra "O Chafariz" do dadaísta Marcel Duchamp e o questionamento a ideia de museu e a arte status quo. Quando Vallauri traz esses objetos revisitados pelo grafite de onça, também brinca com o que é imageticamente aceito, trazendo novamente a estética do brega que quebra o compromisso com a seriedade da imagem. Assim como esses objetos, o lugar inicial do grafite não era o museu, mas ao trazê-los para esse ambiente, seu contexto se modifica.
Uma técnica muito utilizada por Alex Vallauri eram
os estêncis , técnica que se equipara à serigrafia utilizada por Andy Warhol no quesito de fácil reprodutibilidade e a aplicação rápida e simples. Essa técnica reduzia o risco de grafitar em locais não permitidos, considerando que eram tempos de ditadura e repressão à cultura. A primeira marca do artista durante a repressão foi sua bota preta, que espalhou por toda a cidade de São Paulo.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Relatório sobre a greve dos professores
No dia 26/04 a
Secretaria da Educação publicou uma nota de repúdio à greve dos professores da
rede estadual de São Paulo, declarando que “é lamentável que a Apeoesp se paute por uma agenda político-partidária”. De fato, não estava mentindo. Conforme as eleições se aproximam, a disputa entre os partidos hegemônicos do país (PT e PSDB) fica mais acirrada, e todos meios são válidos,
inclusive, a greve. Contudo, reduzir a greve ao interesse político-partidário
da Apeoesp, que hoje tem sua cúpula dominada pelo PT, seria um equivoco
prejudicial, visto que ela pode nos dizer muito mais.
A manifestação dos professores
na Avenida Paulista no dia 26/04 e no dia 03/05, se constituíram em duas
vitórias, sendo uma eufórica e de pouco significado, e a outra trágica, mas com
um significado extremamente valoroso. No dia 26/04, os manifestantes (
basicamente, professores do estado, estudantes secundaristas e estudantes
universitários, estando neste dia em número maior do que nos outros), em
honrosa ousadia, tomaram por completo a Avenida Paulista! Ocuparam as duas
vias, causando quilômetros de congestionamento pela cidade de São Paulo. Em um
depoimento no site da folha, uma cidadã descontente com o ato descreve que
levou “uma hora e 20 minutos apenas para percorrer as 12 quadras que
separam a avenida Brasil da Paulista”. Foi um ato efetivo na medida em
que chamou a atenção e atrapalhou (literalmente, parou as ruas de São Paulo), e
até mesmo subversivo visto que não estava nos planos da cúpula sindical da
Apeoesp, e provavelmente, contrariava os interesses da mesma, se pensarmos no
resultado que o ato causou na manifestação seguinte.
No dia 03/05, foram tomadas
todas as medidas para que a ocupação completa da Paulista não se repetisse.
Quando a primeira via da Paulista foi tomada pelos manifestantes, os líderes da
Apeoesp pediam pelo microfone para que ela fosse desocupada, ao mesmo tempo,
pessoas do sindicato faziam esforço entre os manifestantes para que eles voltassem
para o saguão do MASP (A APEOESP de Assis, nesse momento, declarou não voltar a
levar os estudantes da UNESP de Assis para as próximas manifestações da greve
dos professores, acusando-os de “radicalizar a greve”). Uma vez que os
manifestantes não lhes deram ouvidos e a avenida permaneceu ocupada, formou-se
um cordão de policiais militares impedindo a tomada da outra via.
Durante a Assembleia, a cúpula
da Apeoesp se esforçou ao máximo para amenizar os efeitos do manifesto,
tentando, por exemplo, tirá-lo da Paulista, e falhou miseravelmente diante de
um público que lhes negava todos os apelos. Sem sombra de dúvida, a questão
mais significativa foi a da união da greve dos professores do estado com a dos
professores municipais. Se, tal como disse a Secretaria da Educação, a greve
dos professores foi puxada pela Apeoesp com o objetivo de pressionar o governo
psdebista no Estado de São Paulo e chamar votos para o PT nas eleições de 2014, a partir do momento
em que a greve dos professores do estado se unir com a greve dos professores do
município, a Apeoesp (e o PT) teriam dado um tiro no pé, pois como a prefeitura
de São Paulo é do petista Fernando Haddad, a greve, agora unificada, deixaria
de ter um sentido partidário e passaria a se apresentar como ela realmente tem
sido desde o começo: um manifesto popular de descontentamento para com a
qualidade da educação pública.
Mediante o perigo, a Sra. Bebel,
presidente da APEOESP, prolongou a
Assembleia por 1 hora e meia gritando argumentos contra a união das duas
greves, enquanto o povo respondia eufórico e incessante: “Unifica! Unifica!
Unifica!” Quando finalmente as pautas se abriram para votação, foi decidida a
continuidade da greve, e a cúpula da Apeoesp perdeu em sua proposta de tirar a
greve da Paulista. Quanto a pauta da unificação da greve dos professores do estado e município, num ato de omissão
autoritária, ela se quer foi aberta para
votação!
Quando a manifestação desceu a
Paulista, agora presa a apenas uma via pelo cordão policial que a acompanhava,
o carro de som da Apeoesp paralisou o andamento do manifesto para que ele não
seguisse pela Avenida da Consolação, e entrasse na Bela Cintra. Sabendo o
efeito negativo que causaria no ato, parte considerável dos manifestantes se
negaram a atender ao pedido da Apeoesp, abrindo um novo momento de discurso da
Sra. Bebel contra o povo de sua própria greve. Depois de quase meia hora de
inércia conflituosa entre burocracia sindical e base popular, parte
considerável dos manifestantes contornaram o bloqueio policial e seguiram pela
Avenida da Consolação (momento onde houve pequenos conflitos também com a PM),
mais uma vez, batendo de frente com os interesses da cúpula do sindicato dos
professores. Apesar do ato de soberania popular, daí em diante um clima de
desgaste e desânimo pairou sobre a manifestação, conseguindo até mesmo
desviá-la de seu trajeto oficial quando perto da Praça da República.
Apesar do clima trágico do fim
da passeata política dos professores do estado, ela foi uma vitória de grande
importância. Afirmo isso porque a Assembleia e a manifestação dos professores
do dia 03/05 demonstrou a perda de controle total da base popular pela
burocracia sindical! Base e sindicato, povo e burocracia, se mostraram como
duas partes antagônicas, cada uma com interesses próprios e opostos. Mais do
que isso, foi possível abrir espaço até para a crítica de uma crise da
democracia parlamentar! O sindicato mostrou-se incapaz de defender os
interesses dos trabalhadores, e pior, mostrou-se como um órgão de poder dotado
de interesses próprios e opostos aos dos trabalhadores que deveriam
representar. Por trás dos sindicatos, os partidos que atuavam também se
colocaram na mesma situação. Isso demonstra que o sistema democrático demanda
uma superação do sistema “representativo” para o nível “participativo” de
democracia, e tal sistema político deve ser construído popularmente a partir de
agora. Em outras palavras, está em boa hora para “o povo aprender a andar com
as próprias pernas”.
Além disso, o apoio considerável
dos estudantes secundaristas aos seus professores mostrou-se um fato inédito
nesta greve, evidenciando um boom de
consciência política em resposta a um período de apatia e indiferença da
juventude para com seu “eu” cidadão. Não podemos saber o que acontecerá na
Assembleia do dia 10/05, mas algumas coisas podem ser previstas: o número de
participantes pode diminuir em decorrência do descontentamento dos conflitos da
ultima manifestação e do desgaste da greve, a Apeoesp pode começar a se sentir
interessada pelo fim da greve para que não haja unidade com os professores do
município, a repressão policial pode aumentar. O dia 10/05 será um dia para
pessoas de coragem.
Ainda que a greve acabe sem
nenhuma de suas demandas atendidas, com sorte, ela será lembrada futuramente
como uma divisora de águas. É nesse momento que devemos lembrar que as
conquistas realmente significativas de uma sociedade, dificilmente são
alcançadas imediatamente, e sim, num processo revolucionário permanente, que
deve fluir desde mais aberta manifestação política ao mais singelo agir
cotidiano.
Lucas Alexandre Andreto.
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