Definição de charge
Do
Frances charger (exagerar, carregar),
vem a palavra Charge. Cujo objetivo é focar em uma realidade, geralmente
política, sintetizando o fato com a visão de seu autor. As charges são uma
critica humorística de um fato ou acontecimento especifico. São a reprodução
gráfica de uma noticia já conhecida do publico, segundo a percepção do
desenhista. Carregam sua visão, preconceitos e ideias, e também a linha
editorial do veiculo onde estão inseridas.
“Charge é uma representação artística que faz um corte
transversal no tempo ao expor elementos que provocaram alguma ruptura na
normalidade histórica e, por isso, mereceram alguma espécie de critica ou registro
em desenho.” (LIEBEL, Vinicius. 2005)
Partindo
do conceito semiótico onde texto é tudo aquilo que possui significação, charge é
um texto pictórico que contem signos de conhecimento público, podendo conter
também texto verbal, o que revela o caráter interdisciplinar desse gênero artístico,
e sua alta complexidade.
“Um texto define-se de duas formas que
se complementam: pela organização ou estruturação que dele faz um todo de
sentido, e como um objeto da comunicação que se estabelece entre um destinador
e um destinatário” (BARROS, 2005)
Todo
texto possui uma intencionalidade. Por ser carregada de abstrações, como a
escolha do personagem, dos elementos constituintes, e algumas vezes o texto
verbal, a charge deve ser interpretada minuciosamente a fim de perceber a
intenção do autor para chegar ao sentido do texto.
A
charge tem caráter humorístico, contudo não é um texto ingênuo que apenas
diverte, mas sim uma ferramenta importante de informação e conscientização no
exercício da cidadania. Pois denuncia e critica aspectos da realidade, podendo
ser caracterizada como um discurso ideológico.
Considerando
a charge como uma fonte importante de informação, justifica-se sua utilização
para análises com fins históricos, pois assim como uma matéria jornalística,
coloca uma representação da sociedade vigente.
Chargista
Claudius Ceccon
“O desenho de humor é muito mais livre que uma foto ou um
filme. O humor pode usar a linguagem da fantasia, do surrealismo, pode fazer
sínteses impossíveis por outros meios, desvelar mecanismos escondidos, abrir as
cabeças por meio do riso” (CECCON, Claudius,
2013)
Claudius Ceccon é um artista
interdisciplinar: arquiteto, designer, caricaturista e jornalista. Publicou
seus trabalhos nos grandes veículos brasileiros como a Revista Manchete, pelos
jornais A Noite, Diário Carioca, Correio
da Manhã, O Globo, Folha de São Paulo e
O Estado de São Paulo. Sua carreira jornalística teve início ao trabalhar
como auxiliar de paginador da revista O
Cruzeiro em 1952. Começou a fazer suas caricaturas políticas em 1954, para
o Jornal do Brasil. Trabalhou na
Revista Pif-paf e na Senhor, onde conheceu os futuros
parceiros que em 1969 fundariam o jornal O pasquim, o qual colaborou até sua extinção em 1982, desafiando a censura e ditadura militar.
Considerando seu exílio político em
Genebra em 1971, não é difícil estabelecer uma idéia da posição política do cartunista
de humor, Claudius Ceccon a respeito do período ditatorial no Brasil. Lá
conheceu Paulo Freire e a preocupação que o acompanha até hoje e influenciou
todo seu trabalho nasceu: a democratização da informação. Fundou com Paulo Freire o Instituto de Ação
Participativa (Idac), no qual realizou um importante projeto de alfabetização de
adultos em países africanos de língua portuguesa.
Em seu retorno ao Brasil em 1978,
aplicou os métodos educativos utilizados pelo Idac em comunidades carentes de
São Paulo em parceria com o arcebispo Dom Evaristo Arns. Após se desligar do
instituto, passou a integrar a diretoria do Centro de criação de imagem popular
(Cecip), onde até hoje desenvolve atividades pedagógicas em vídeos na cidade de
Nova Iguaçu. Publicou diversos livros decorrentes desse trabalho educacional, e
até hoje faz suas contribuições jornalísticas como por exemplo para a revista Caros Amigos.
Análise de Charges
Charge Publicada Na Folha do
dia 30/09/84:
O
personagem representado na charge é o ex-governador e na época deputado federal
Paulo Maluf, caracterizado pelo estilo do óculos fundo de garrafa, por seu
peso, sua boca grande e o proeminente nariz. Maluf foi candidato à presidência
via eleições indiretas pelo colégio eleitoral, e era contra a emenda
institucional Dante de Oliveira que visava as eleições presidenciais de forma
direta.
Na
charge o personagem realiza um exame oftalmológico, com as inscrições que
formam a palavra democracia, contudo ele não as identifica e as troca por letras
que formam a palavra ditadura.
O
Chargista que é pro-democracia assim como o veículo no dado momento ironizam a imagem de Maluf, quanto suas
características físicas e seus valores políticos. Maluf que apresenta problemas
de visão, devido ao uso do óculos corretivo de grau elevado, é caracterizado
com um problema de visão também ideológico. O personagem está reclinado e com
olhos apertados, como se fizesse força para enxergar. Porém se nega a ver a nova
realidade que se apresenta diante de seus olhos, e deturpa a palavra não só em
seu sentido verbal, mas também simbólico conforme sua perspectiva.
Charge Publicada Na Folha do
dia 16/09/84:
A
charge apresenta os personagens de Maluf e Tancredo, batendo à porta do colégio
eleitoral. Tancredo com flores nas mãos e Maluf munido com armas. Ambos eram
candidatos às eleições indiretas para presidência e apresentavam uma relação de
oposição politico-ideológica.
“O
crescimento da candidatura, junto às faixas mais amplas da opinião pública,
deveu-se mais à polarização e aos efeitos do contraste com Maluf do que
propriamente às qualidades de Tancredo. Estuário natural da longa resistência à
ditadura, o candidato da oposição beneficiou-se da natureza plebiscitária da
competição. Não era preciso desejar a vitória de Tancredo para torcer por ela,
bastava desejar a derrota de seu adversário “(Soares, 1993).
Tancredo
possuía um discurso moderado, e mais à esquerda no cenário da época. Já Maluf,
candidato pelo PDS possuía apoio dos militares. É lembrado "como político conciliador e hábil
articulador político" por Roldão Arruda, jornalista do Estado de São Paulo.
As flores que Tancredo
empunha e sua expressão calma, simbolizam e caracterizam seu discurso pacifico
diante das divergências politicas do contexto. Já Maluf é endemonizado pelo
chargista, através de sua expressão vil com a sobrancelha arcada e o porte de
um armamento. Tancredo vem a frente, pois propunha a mudança apoiado pela
opinião publica. Enquanto Maluf vem armado pois deseja impor que não haja
mudança.
Charge Publicada Na Folha em
09/84:
A Charge
representa Maluf tentando tirar coelhos de uma cartola furada. Com expressão de
perplexidade e desconcerto, se dá conta que os coelhos fugiram.
“Maluf provocava quase apoplexia na esquerda, em boa parte do
centro e até em alguns membros do PDS, que o viam como uma ameaça à democracia
emergente. O ex-governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães, por exemplo,
declarou em agosto de 1984 que Maluf era o homem mais odiado do Brasil e que
não podia andar um quarteirão sem arriscar sua vida” (SKIDMORE, 1988)
A
mensagem da charge é clara quanto a visão do veículo, do chargista e da opinião
publica diante do desenrolar da votação indireta à presidência. O chargista
apresenta o personagem como um mágico que tenta usar subterfúgios para lidar
com a situação. Contudo “os coelhos fugiram da cartola”, assim como a situação
que saiu do controle das mãos do então candidato, que estava com sua imagem
manchada.
Marina Chiapetta e Gabriela Prado
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