terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A pulsão sexual e a obsessão em Lolita – Vladimir Nabokov (1955)


Lolita é um romance do escritor russo Vladimir Nabokov publicado em 1955, considerado como uma das mais célebres, sórdidas e polêmicas obras do século XX. O tema tratado na obra é a pedofilia e amor obsessivo. Já o assunto é a relação doentia de um homem de 35 anos com sua enteada, de 12. A mensagem passada através do livro confirma a teoria freudiana de que as pulsões sexuais, muitas vezes, ultrapassam o controle da própria racionalidade. Humbert Humbert é narrador protagonista  do romance, este desenvolve um conflito psicológico, tentando diminuir sua culpa por sua contravenção moral. Contudo, também, enfrenta um conflito legal, pois a pedofilia é uma relação ilícita e por isso, tenta se esquivar da polícia e de qualquer suspeita.
“Lolita, luz de minha vida, fogo de meu lombo. Meu pecado, minha alma. Lolita: a ponta da língua fazendo uma viagem de três passos pelo céu da boca, a fim de bater de leve, no terceiro, de encontro aos dentes. LO. LI. TA.” (Nabokov, 1955, p.7)
O escritor e professor de literatura francesa, Humbert, 35 anos, aluga um quarto na casa de uma viúva com uma filha adolescente, na pequena cidade de Ramsdale, Nova Inglaterra, em plena 1947. Ele se apaixona perdidamente pela garota, Dolores Haze, 12 anos, e por isso, casa-se com sua mãe, Charlotte Haze, para se manter próximo. A jovem gosta de ser alvo dessa paixão usando o professor para realizar seus caprichos. Devido ao mau relacionamento com a mãe, é enviada para um acampamento de férias. Após descobrir as confissões de Humbert Humbert em seu diário, Charlotte morre atropelada e a partir de então, Humbert busca Lolita e foge para uma viagem sem conta-la do ocorrido. Constrói uma nova vida a apresentando como filha, mas na privacidade, a usa como amante.
Uma possível interpretação para esta história, que se mantém polêmica até hoje, é a perversão clínica, pelas chamadas nymphets (meninas de nove a quatorze anos), do amargurado Humbert. Em algumas analises, Lolita é considerada culpada por provocar o desejo doentio do professor e isso pode ser fruto da eficaz tentativa de racionalização deste para transferir a culpa. Tal racionalização é apresentada em diferentes pontos da obra, começando pelo trauma vivido com a jovem Annabel. Humbert atribui uma das possíveis causas para seu problema por uma frustração na infância de um amor intenso que viveu aos treze anos com uma menina da mesma idade, que tragicamente morreu, marcando-o com o desejo reprimido por um corpo infantil. Esta lembrança sempre o torturou e veio a eclodir ao ver Dolores no jardim da casa pela primeira vez.
Uma possível analogia à ser feita é que o autor favorito de Humbert, Edgard Allan Poe, que já era maduro quando se casou com uma menina de quatorze. Ao cunhar o termo “nymphets”, pretende fazer a distinção entre estas e as “crianças normais”, assim, tenta tirar esse peso de sua consciência ao dizer que respeita as crianças comuns que ainda são puras e vulneráveis.
“Ora me sentia envergonhado e assustado, ora inquietamente otimista.” (Nabokov, 1955, p.18) Por vezes Humbert convencia-se que apenas sonhar e desejar as nymphets não era uma doença, mas sim transitar das ideias para o ato, o que seria uma depravação. Pelo receio de ser preso e condenado, Humbert renuncia à seus desejos durante anos de sua vida apenas tendo relações sexuais com mulheres adultas, mas que ainda assim mantivessem traços infantis.
Lolita é uma garota perversamente ingênua. Mantém uma relação conflituosa e de disputas com a mãe, tem uma curiosidade sexual aguçada, característica de uma púbere, e se vê envolvida pela ilusão de glamour de ter seus caprichos realizados e também satisfazer seus sonhos de consumo.
A relação conflituosa entre Lolita e sua mãe é bem clara. Segundo Humbert, Charlotte é a “mãe detestada” (Nabokov, 1955, p. 51), pois implica com Lolita a todo momento e ambas tentam fazer da vida uma da outra um caos. Charlotte, após casar-se com Humbert, planeja se livrar da filha, a mandando para um colégio interno.  Já Lolita, por ver o intenso amor de sua mãe por Humbert, o seduz como forma de rivalidade e competição pela atenção deste. Usa-o como forma de disputa, e não como objeto de desejo, tendo em vista apenas vencer a rival e não mantê-lo como parceiro. Isto fica claro após a morte da mãe, quando Lolita perde o interesse de conquistá-lo.
            Lolita possui curiosidades sexuais típicas da puberdade e também uma sensualidade natural ao tentar seduzir um homem com sua jovialidade tentadora. A garota insinua que sua primeira experiência sexual ocorreu durante o acampamento de férias com outro adolescente, assim, revela sua curiosidade pelo sexo oposto, mas que, diferente de Humbert, não é excludente à uma faixa etária.
            A personagem se vê envolta a uma atmosfera de glamour hollywoodiana com a disputa amorosa e a paixão impossível, e também por ter seus caprichos consumistas satisfeitos pelo alvo de sua manipulação. Após a morte de Charlotte, Lolita se encontra presa e suas atitudes oscilam entre passividade que, em alguns momentos, alcança a apatia e também a rebeldia com acusações abertas e agressões, revelando as consequências de ser alvo de uma possessividade sufocante. Consegue fugir e se manter anônima pelos próximos quatro anos, quando envia-lhe uma carta pedindo ajuda financeira.
            Muitos absolvem a culpa de Humbert pelo seu amor incondicional por Lolita, o que fica claro ao vê-la mulher, aos 18 anos, e mesmo sendo considerado um pedófilo, mantém a paixão descartando a importância da idade. “Não podia matá-la, claro, como alguns pensaram. Eu a amava, os senhores compreendem. Era amor à primeira vista, à última vista e a todas as outras vistas, sempre.” (Nabokov, 1955, p.301)


            A história é narrada por seu protagonista, Humbert, que apresenta ao longo do livro suas confissões e seus conflitos internos em relação à essa polêmica moral. Em alguns momentos da reflexão, ele se condena mas, ao mesmo tempo, tenta amenizar e se enganar diante de suas racionalizações para justificar seu desejo. Humbert vê sua racionalidade vencida por suas pulsões sexuais. Lolita é uma menina curiosa e que não pode ser vista como completamente ingênua, ela possui malícia e sabe como despertar a paixão nele. Contudo, não é a culpada pela perversão de Humbert, este que já possuía características de um pedófilo antes de conhecê-la.
 Tays Perez e Marina Chiapetta

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