Lolita
é um romance do escritor russo Vladimir Nabokov publicado em 1955, considerado
como uma das mais célebres, sórdidas e polêmicas obras do século XX. O tema tratado
na obra é a pedofilia e amor obsessivo. Já o assunto é a relação doentia de um
homem de 35 anos com sua enteada, de 12. A mensagem passada através do livro
confirma a teoria freudiana de que as pulsões sexuais, muitas vezes,
ultrapassam o controle da própria racionalidade. Humbert Humbert é narrador
protagonista do romance, este desenvolve
um conflito psicológico, tentando diminuir sua culpa por sua contravenção
moral. Contudo, também, enfrenta um conflito legal, pois a pedofilia é uma
relação ilícita e por isso, tenta se esquivar da polícia e de qualquer
suspeita.
“Lolita,
luz de minha vida, fogo de meu lombo. Meu pecado, minha alma. Lolita: a ponta
da língua fazendo uma viagem de três passos pelo céu da boca, a fim de bater de
leve, no terceiro, de encontro aos dentes. LO. LI. TA.” (Nabokov, 1955, p.7)
O
escritor e professor de literatura francesa, Humbert, 35 anos, aluga um quarto
na casa de uma viúva com uma filha adolescente, na pequena cidade de Ramsdale,
Nova Inglaterra, em plena 1947. Ele se apaixona perdidamente pela garota,
Dolores Haze, 12 anos, e por isso, casa-se com sua mãe, Charlotte Haze, para se
manter próximo. A jovem gosta de ser alvo dessa paixão usando o professor para
realizar seus caprichos. Devido ao mau relacionamento com a mãe, é enviada para
um acampamento de férias. Após descobrir as confissões de Humbert Humbert em
seu diário, Charlotte morre atropelada e a partir de então, Humbert busca
Lolita e foge para uma viagem sem conta-la do ocorrido. Constrói uma nova vida
a apresentando como filha, mas na privacidade, a usa como amante.
Uma
possível interpretação para esta história, que se mantém polêmica até hoje, é a
perversão clínica, pelas chamadas nymphets (meninas de nove a quatorze anos), do
amargurado Humbert. Em algumas analises, Lolita é considerada culpada por
provocar o desejo doentio do professor e isso pode ser fruto da eficaz
tentativa de racionalização deste para transferir a culpa. Tal racionalização é
apresentada em diferentes pontos da obra, começando pelo trauma vivido com a
jovem Annabel. Humbert atribui uma das possíveis causas para seu problema por
uma frustração na infância de um amor intenso que viveu aos treze anos com uma
menina da mesma idade, que tragicamente morreu, marcando-o com o desejo
reprimido por um corpo infantil. Esta lembrança sempre o torturou e veio a
eclodir ao ver Dolores no jardim da casa pela primeira vez.
Uma
possível analogia à ser feita é que o autor favorito de Humbert, Edgard Allan
Poe, que já era maduro quando se casou com uma menina de quatorze. Ao cunhar o
termo “nymphets”, pretende fazer a distinção entre estas e as “crianças
normais”, assim, tenta tirar esse peso de sua consciência ao dizer que respeita
as crianças comuns que ainda são puras e vulneráveis.
“Ora
me sentia envergonhado e assustado, ora inquietamente otimista.” (Nabokov,
1955, p.18) Por vezes Humbert convencia-se que apenas sonhar e desejar as
nymphets não era uma doença, mas sim transitar das ideias para o ato, o que
seria uma depravação. Pelo receio de ser preso e condenado, Humbert renuncia à
seus desejos durante anos de sua vida apenas tendo relações sexuais com
mulheres adultas, mas que ainda assim mantivessem traços infantis.
Lolita
é uma garota perversamente ingênua. Mantém uma relação conflituosa e de
disputas com a mãe, tem uma curiosidade sexual aguçada, característica de uma
púbere, e se vê envolvida pela ilusão de glamour de ter seus caprichos
realizados e também satisfazer seus sonhos de consumo.
A
relação conflituosa entre Lolita e sua mãe é bem clara. Segundo Humbert,
Charlotte é a “mãe detestada” (Nabokov, 1955, p. 51), pois implica com Lolita a
todo momento e ambas tentam fazer da vida uma da outra um caos. Charlotte, após
casar-se com Humbert, planeja se livrar da filha, a mandando para um colégio
interno. Já Lolita, por ver o intenso
amor de sua mãe por Humbert, o seduz como forma de rivalidade e competição pela
atenção deste. Usa-o como forma de disputa, e não como objeto de desejo, tendo
em vista apenas vencer a rival e não mantê-lo como parceiro. Isto fica claro
após a morte da mãe, quando Lolita perde o interesse de conquistá-lo.
Lolita possui curiosidades sexuais
típicas da puberdade e também uma sensualidade natural ao tentar seduzir um
homem com sua jovialidade tentadora. A garota insinua que sua primeira
experiência sexual ocorreu durante o acampamento de férias com outro
adolescente, assim, revela sua curiosidade pelo sexo oposto, mas que, diferente
de Humbert, não é excludente à uma faixa etária.
A personagem se vê envolta a uma
atmosfera de glamour hollywoodiana com a disputa amorosa e a paixão impossível,
e também por ter seus caprichos consumistas satisfeitos pelo alvo de sua
manipulação. Após a morte de Charlotte, Lolita se encontra presa e suas
atitudes oscilam entre passividade que, em alguns momentos, alcança a apatia e
também a rebeldia com acusações abertas e agressões, revelando as consequências
de ser alvo de uma possessividade sufocante. Consegue fugir e se manter anônima
pelos próximos quatro anos, quando envia-lhe uma carta pedindo ajuda financeira.
Muitos absolvem a culpa de Humbert
pelo seu amor incondicional por Lolita, o que fica claro ao vê-la mulher, aos
18 anos, e mesmo sendo considerado um pedófilo, mantém a paixão descartando a
importância da idade. “Não podia matá-la, claro, como alguns pensaram. Eu a
amava, os senhores compreendem. Era amor à primeira vista, à última vista e a
todas as outras vistas, sempre.” (Nabokov, 1955, p.301)
A história é narrada por seu
protagonista, Humbert, que apresenta ao longo do livro suas confissões e seus
conflitos internos em relação à essa polêmica moral. Em alguns momentos da
reflexão, ele se condena mas, ao mesmo tempo, tenta amenizar e se enganar
diante de suas racionalizações para justificar seu desejo. Humbert vê sua
racionalidade vencida por suas pulsões sexuais. Lolita é uma menina curiosa e
que não pode ser vista como completamente ingênua, ela possui malícia e sabe
como despertar a paixão nele. Contudo, não é a culpada pela perversão de
Humbert, este que já possuía características de um pedófilo antes de conhecê-la.
Tays Perez e Marina Chiapetta
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