quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Em defesa do Santo Populacho




              Poucas coisas tem me causado tanta aversão como o argumento anti-social (talvez até mesmo anti-humano) de que o pobre é o único culpado por sua própria pobreza. Trata-se de quando você vê na rua ou na TV a situação humilhante de uma ou milhares, milhões de pessoas e alguém do seu lado (o pai, amigo, etc) comenta: “Ah! Para com isso! Se esses caras fossem esforçados sairiam dessa situação fácil, as chances tão aí, se não aproveitam é porque são trouxas ou vagabundos!”
            Hoje parece ser loucura colocar a meritocracia capitalista em xeque. Contudo, deveríamos ter em mente que ela não vale absolutamente nada perante a desigualdade de oportunidades. A diversidade de riqueza é um problema que quebra a possibilidade de desenvolvimento individual por mérito. Algumas pessoas adotaram o péssimo costume de reduzir os problemas sociais brasileiros à base da economia, e daí por diante, interpretam que todos, até mesmo os maiores miseráveis, partem de uma realidade idêntica a da classe média.
            Costuma-se colocar a culpa pelo fracasso no mundo de mercado na instituição da escola. Mas deveríamos notar que o problema começa quando o indivíduo nasce e é inserido em seu contexto social. A família é o primeiro item de reprodução da riqueza e da pobreza. Trata-se da herança cultural passada de pai para filho e que é diferente em cada classe social. Os pais da classe média e alta transmitem aos filhos uma visão de mundo de “ser gente”: comer nas horas certas, estudar, fazer os deveres de casa, não usar drogas, evitar formas de sexualidade prematuras, etc. Em outras palavras, a classe média e alta passam de pai para filho os valores da autodisciplina, autocontrole, pensamento prospectivo, autoconfiança, respeito ao espaço alheio, e outras tantas que são necessárias para o sucesso na sociedade capitalista neoliberal.
            Dificilmente as classes baixas possuem esse tipo de aprendizado. O filho de classe média, desde pequeno está acostumado a ver o pai lendo o jornal e a mãe lendo um romance. O filho de classe baixa não tem esse tipo de exemplo, pois não é difícil que seus pais sejam analfabetos; da mesma forma, seu contexto social está marcado pela exclusão, pelo preconceito, violência, prostituição, crimes de todos os tipos, criando uma forte tendência para que ele seja absorvido por esses fatores. Privados de boas condições econômicas e sociais, e eternizando uma cultura que não os favorece e é justificada pela sociedade, como esperar o “milagre do esforço” dessas pessoas? O que assegura a desigualdade social e o privilégio de classe atualmente, é o mito do “esforço individual”.
            Ignorar este conflito social significa eternizá-lo. Recusar esse raciocínio neoliberal e economicista, que mutila a realidade ao econômico, excluindo as questões sociais, culturais, etc, é um bom começo. Outras alternativas para se resolver o problema da exclusão social, seria um programa de reinserção dessas pessoas na sociedade, começando por tirá-las das periferias e transportá-las para morar em casas próprias dentro da cidade. Um programa de Estado abrangendo tal objetivo, poderia se encarregar também de conseguir emprego e ensino pra essas mesmas pessoas, de acordo com suas necessidades, no ato de sua mudança de residência.
            Para quem quiser saber mais sobre o assunto, indico o livro “A ralé brasileira”, do sociólogo Jessé Souza.

Um comentário:

  1. Mto bom o texto! Há um anvançoi na questão ensino... com as escola tecnicas publicas... q visam justamente a população de baixa renda... são cursos bons e sem custo nenhum... e que em casos... dependendo da area, substitui o ensino superior... Por ex: nutrição... logistica... ADM... e bla bla bla... Poorém, vale lembrar q para entrar na escola vc precisa ter uma media na prova, ou seja, meritocracia! Aí entra em pauta mais uma vez a herança cultural de pais pra filhos... O ideal seria que as escolas tecnicas fossem de fato aberta para o publico... Se eu não me engano a prefeitura de SP estavs com um projeto de escolas tecnicas nos CEUs... Mas não me informei da forma para entrar nelas...

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