Poucas coisas tem me causado
tanta aversão como o argumento anti-social (talvez até mesmo anti-humano) de
que o pobre é o único culpado por sua própria pobreza. Trata-se de quando você
vê na rua ou na TV a situação humilhante de uma ou milhares, milhões de pessoas
e alguém do seu lado (o pai, amigo, etc) comenta: “Ah! Para com isso! Se esses
caras fossem esforçados sairiam dessa situação fácil, as chances tão aí, se não
aproveitam é porque são trouxas ou vagabundos!”
Hoje
parece ser loucura colocar a meritocracia capitalista em xeque. Contudo,
deveríamos ter em mente que ela não vale absolutamente nada perante a
desigualdade de oportunidades. A diversidade de riqueza é um problema que
quebra a possibilidade de desenvolvimento individual por mérito. Algumas
pessoas adotaram o péssimo costume de reduzir os problemas sociais brasileiros
à base da economia, e daí por diante, interpretam que todos, até mesmo os
maiores miseráveis, partem de uma realidade idêntica a da classe média.
Costuma-se
colocar a culpa pelo fracasso no mundo de mercado na instituição da escola. Mas
deveríamos notar que o problema começa quando o indivíduo nasce e é inserido em
seu contexto social. A família é o primeiro item de reprodução da riqueza e da
pobreza. Trata-se da herança cultural passada de pai para filho e que é
diferente em cada classe social. Os pais da classe média e alta transmitem aos
filhos uma visão de mundo de “ser gente”: comer nas horas certas, estudar,
fazer os deveres de casa, não usar drogas, evitar formas de sexualidade
prematuras, etc. Em outras palavras, a classe média e alta passam de pai para
filho os valores da autodisciplina, autocontrole, pensamento prospectivo,
autoconfiança, respeito ao espaço alheio, e outras tantas que são necessárias
para o sucesso na sociedade capitalista neoliberal.
Dificilmente
as classes baixas possuem esse tipo de aprendizado. O filho de classe média,
desde pequeno está acostumado a ver o pai lendo o jornal e a mãe lendo um
romance. O filho de classe baixa não tem esse tipo de exemplo, pois não é
difícil que seus pais sejam analfabetos; da mesma forma, seu contexto social
está marcado pela exclusão, pelo preconceito, violência, prostituição, crimes
de todos os tipos, criando uma forte tendência para que ele seja absorvido por
esses fatores. Privados de boas condições econômicas e sociais, e eternizando
uma cultura que não os favorece e é justificada pela sociedade, como esperar o
“milagre do esforço” dessas pessoas? O que assegura a desigualdade social e o
privilégio de classe atualmente, é o mito do “esforço individual”.
Ignorar
este conflito social significa eternizá-lo. Recusar esse raciocínio neoliberal
e economicista, que mutila a realidade ao econômico, excluindo as questões
sociais, culturais, etc, é um bom começo. Outras alternativas para se resolver
o problema da exclusão social, seria um programa de reinserção dessas pessoas
na sociedade, começando por tirá-las das periferias e transportá-las para morar
em casas próprias dentro da cidade. Um programa de Estado abrangendo tal
objetivo, poderia se encarregar também de conseguir emprego e ensino pra essas
mesmas pessoas, de acordo com suas necessidades, no ato de sua mudança de
residência.
Para
quem quiser saber mais sobre o assunto, indico o livro “A ralé brasileira”, do
sociólogo Jessé Souza.
Mto bom o texto! Há um anvançoi na questão ensino... com as escola tecnicas publicas... q visam justamente a população de baixa renda... são cursos bons e sem custo nenhum... e que em casos... dependendo da area, substitui o ensino superior... Por ex: nutrição... logistica... ADM... e bla bla bla... Poorém, vale lembrar q para entrar na escola vc precisa ter uma media na prova, ou seja, meritocracia! Aí entra em pauta mais uma vez a herança cultural de pais pra filhos... O ideal seria que as escolas tecnicas fossem de fato aberta para o publico... Se eu não me engano a prefeitura de SP estavs com um projeto de escolas tecnicas nos CEUs... Mas não me informei da forma para entrar nelas...
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